quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Dona Baratinha e os finais felizes


Era uma vez uma simpática baratinha que ao varrer sua casa encontrou uma moeda. Como quase todo vaidoso ser feminino tratou de botar um laço de fita na cabeça e, como quase todo ser feminino, foi para a janela procurar um noivo, pois achava que já tinha feito seu pé de meia.
O roteiro seguiu mais ou menos assim: toda vez que alguém passava, ela perguntava com voz melodiosa e cantarolante: - Quem quer casar com Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha? O bicho respondia: - EU QUERO! E ela sabiamente perguntava como ele fazia de noite.
E aí é que foi o bicho! Seguiram-se sonoros MUUUUU!, RIRIRIRI!, AU,AU,AU! BÉÉÉÉ!, até MIAAAUUU! Teve, mas ela não se sentiu confortável com o gatinho e com bicho nenhum, e respondia, muito enjoada: - Ai, não! É muito barulho, não me deixa dormir. Sai Fora! Recusou até galo e papagaio.
Sua exigência teve fim quando bateu o olho num ratinho que apressadinho ia passando. Caprichou na voz e despretensiosamente fez a pergunta. O ratinho se candidatou.
O final dessa história, todos devem conhecer. Não bastasse o bufê que a baratinha bancou com suas economias (sim, porque em contos, vale tudo, até a multiplicação do poder aquisitivo de uma moeda!), o rato, como quase todo ser masculino, era egoísta e guloso. Queria uma feijoada, o que foi prontamente atendido pela baratinha apaixonada – como quase todos os seres do sexo feminino fazem.
E, ao chegar na igreja, foi logo avisada pelas amigas Dona Esperança e Dona Joaninha a dar mais umas voltinhas nas redondezas para não pagar o mico de ficar no altar esperando o noivo.
A essa altura, poderia até correr o percurso da São Silvestre. O guloso ratinho já estava morto dentro da feijoada. Foi um baita prejuízo: perdeu-se o noivo e a feijoada!
O bom dessa história é que termina assim: Dona baratinha lamentou pelo ratinho, mas agradeceu pela sua sorte, pois não daria certo mesmo um noivo que gostava mais de feijão do que dela. Conclusão da baratinha: - Melhor eu ficar sozinha e gastar meu dinheiro pra me divertir!
A história termina aí. Mas enquanto eu vibrava com a mensagem libertária de nossa sábia protagonista, quem disse que minha filha de 5 anos aceitou esse desfecho? De logo protestou que o final não era assim, que a barata encontrava um barato e que se casava com ela e viviam felizes para sempre!
Ouvi, refleti, suspirei e pensei, que no fundo no fundo, como todo ser feminino, queremos realmente ser felizes no amor, queremos que dê certo. Garanto que Madonna (claro, né gente, tinha que falar!) não queria ter se separado de Guy Ritchie e que Suzana Vieira nunca imaginou o fim dramático que teve seu conto de fadas da terceira idade.
Diante da pureza e dos sonhos de minha filha, silenciei e preferi guardar pra mim algumas reflexões mais libertárias. Acho mesmo, em muitos casos, que elas vêm como segunda opção. Que cada um escreva o seu final.
Recife, 10 de fevereiro de 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário