sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

G - 0 - R - D - A !


PARTE 1 - BALEIA ASSASSINA 

verão é uma estação reveladora. Revela toda a besteira que você comeu durante o iverno! Esse post ia sair ontem, mas graças a uma pane no notebook, ficou sendo mentalmente processado. E como geralmente nada é por acaso, certamente hoje sairá mais bem humorado.

 A questão do dia é quilos a mais. Eu já sabia. Só que fingia não saber, fingia que não ia me escravizar a padrões estéticos, fingia que estava tudo bem. A extensão do problema revelou-se em uma consulta de urgência a um angiologista. Um problema que vinha se agravando na perna me levou a um consultório ontem de manhã.

O médico, haviam me indicado. Entrei em sua sala cheia de esperanças de um remédio milagroso, umas aplicações, quem sabe, ou até mesmo uma nova cirurgia. Afinal, angiologistas fazem isso. E havia cancelado um almoço com amigas por conta do ocorrido.

Ensimesmado, sisudo, espondeu ao meu sonoro "bom dia". Fiz minhas queixas. Ele perguntou minha idade e rabiscou hieróglifos em sua ficha - daquelas que eu fazia resumos do que lia na faculdade. De cara, me perguntou: "A senhora está fazendo regime?" Até então apenas constrangida, respondi: "Estou tentando. Estou precisando, né?" (sorriso amarelo para pergunta idiota).

Após alguns exame clínicos, tipo tocar o dedo dos pés com as mãos e me agachar, veio a sentença: "você está precisando perder peso". Também pediu um exame específico, recomendou massagem com óleo, mas ESCREVEU, sim, ele ESCREVEU em seu receituário: Nutricionista - perder peso - e fazer hidroginástica. Ainda insisti, fiz um rosário de perguntas que, no melhor estilo Seu Lunga, balançou a cabeça negativamente como resposta.

Saí de lá com ÓDIO! Do médico, do mundo, de mim mesma! Eu já sabia. O sobrepeso passara dos limites. E eu, que nunca fui gorda, começava a sentir os sinais do malefício: vivia indisposta, o que muitas vezes me autocriticava como preguiça, os tornozelos inchavam, e estava ficando cansada, ofegante ao menor esforço.


PARTE 2 - VIDA DE SEREIA



Embora a consulta não tenha sido das mais esclarecedoras, foi reveladora. De volta pra casa, comprei  frutas, verduras e subi os sete andares de escada.  E se não observaram, escrevi meus sintomas no pretérito imperfeito. O mau humor encontrou espaço em todo o dia de ontem.



Graças a muita cacetada, aprendi que uma faixa vibratória pode ser transformada com atitudes. Hoje, ainda de má vontade, fui ao salão. Nada melhor do que uma boa depilação e um biquíni colorido. Na volta, subi  novamente de escada. Fui à praia com o marido. Andamos um pouco, e logo mergulhei na água verdinha, morninha. Uma delícia! Nadei bastante. Mais escadas na volta. Decidi que hoje estou começando a entrar em forma. Nem acreditei que resisti ao Caldinho da Jane e à minha cerveja gelada. Um ato de bravura! Estou de parabéns. Sei que não será fácil, mas farei o melhor. Por mim. E viva o verão!


Esclarecendo: o líquido da direita era do marido, que não se chama Mário. He he he.
E o almoço com as amigas, vou remarcar assim que estiver mais segura.


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

MDNA TOUR. MADONNA CONTINUA SE EXPRESSANDO E MANDANDO VER



Em 2008, quando a cantora Madonna voltou ao Brasil após 19 anos, desde The Girlie Show, cometi o disparate de não escrever sobre a experiência de ter estado na sua Sticky &Sweet Tour. As lembranças são muitas embora os detalhes vão ficando pouco a pouco para trás. Ao completar 30 anos de carreira, Madonna novamente pôs o pé na estrada com sua MDNA Tour, momento propício para minha redenção.


Pois bem. Os clichês permeiam a condição humana e com a cantora pop não tem sido diferente. O sexo, a beleza, a pobreza, a religião, o preconceito, todas essas referências e um sem número de outras estão em suas estórias, suas letras e, principalmente, em suas imagens.


Mas há um quê em seu olhar intenso o suficiente para transcender a aparência do próprio lugar comum. Há uma força transformadora em sua narrativa. Mesmo que previsível.


Contraditoriamente, ao longo dessas três décadas, seu combate tem sido contra os lugares comuns. Para quem alarda que uma senhora de 54 anos deve ser dar ao respeito e se recolher às portas da velhice, Madonna se apresenta como a pecadora que aspira ser uma boa garota, ou vice-versa. Como a mulher assustada que mata o amante com um tiro na cabeça, vira líder de torcida para em seguida fazer um streap.


Aliada a essa postura, a MDNA Tour trouxe um aparato tecnológico admirável com recursos de telões e painel de última geração, bailarinos afiados e figurino diversificado. Mas quem dá vida a toda essa parafernália é sem dúvida a dona da festa.

Com uma resistência física espantosa, a rainha do pop dança e muito, interpreta, canta e comanda seu show. Pernas e braços trabalhados de dar inveja a muita jovem, a superstar chega anunciada por um coro religioso. Reza, pede perdão a Deus e, com uma arma em punho, destrói a própria catedral virtual. Começa aí a desconstrução de dogmas. Monges tiram suas capas e se transformam em dançarinos em Girl Gone Wild, dando boas vindas à festa profana.


Algumas músicas são playback, é fato. Mas quem daria conta, por quase duas horas, de cantar e dançar daquele jeito? Em todo caso, dessa vez ela lançou mão do recurso menos do que em S&S.
Na verdade, essa questão é a que menos importa diante da linguagem tão madônica de seu show. Sua dança e sua energia provocadora envolvem o diversificado público. No Estádio do Morumbi, em são Paulo, havia héteros convictos, homossexuais assumidos, pais com seus filhos adolescentes, jovens, velhos, gente pra todo o gosto. Era a prova viva do refrão “Music makes the people come together.”


No primeiro dia do show em São Paulo, quem chegou cedo foi presenteado com uns 40 minutos de ensaio. A histeria foi grande quando a cantora surgiu ao fundo do palco, toda de preto, luvas e boné, conversando com sua equipe.


Ensaiou a abertura, Revolver, Papa Don’t Preach, I Don’t Give A, o trio Express Yourself/Turn Up The Radio/Give Me All Your Luvin, I'm a sinner e Celebration. E também Vogue, que interrompeu e repetiu várias vezes por conta de uma falha técnica. Quem estava na santa grade testemunhou melódicas broncas em seu staff. Mas também falou com os espectadores, tirou algumas brincadeiras e disse um "obrigada" ao se retirar do palco.


Anoiteceu e o público enfrentou a cansativa espera. Para quem estava na pista premium e chegou cedo, ir ao banheiro era um ato de desprendimento e coragem, pois corria o risco de perder seu lugar mais próximo da diva. Gente de tantos lugares se amontoavam. O atraso de duas horas e a irritação foi esquecida de um segundo para o outro quando a cantora entabulou o seu primeiro “Oh my God!”.


O seu painel de LED, o maior do mundo, é um show à parte. Integrado ao contexto de sua música, exibe imagens que complementam e explicitam as mensagens. De Michelângelo, com as telas de “O juízo final” e “O toque de Adão” a imagens de santos, Madonna afirma que o sagrado e o profano estão em cada um. Em Express Yourself, desenhos da Pop Art das décadas de 40/50. Detalhe para o desenho de uma dona de casa típica dos anos 50, com um lenço amarrado na cabeça, e que mostra seu dedo médio. O questionamento é implícito: As mulheres precisam se conformar com uma só condição?


No terceiro e penúltimo bloco, o inesperado: após cantar Human Nature/Erótica, improvisa um streaptease, veste a camisa de um fã e some palco adentro sem cantar a tão esperada Like a Virgin. O sussurro é geral e ninguém entendeu. A dose se repete no dia seguinte e até hoje não se tem uma explicação. Ao menos oficial, pois as teorias são muitas: O piano seguiu direto para Porto Alegre (onde ela também não cantou), o espartilho a estava machucando, ela cansou de cantar o hit, foi por conta do tipo de público, enfim. Se há uma falha imperdoável, essa ela cometeu e não explicou. E nem vai. "Its human nature."


A presença de Madonna é algo muito forte. Ela é atitude. Algumas canções de seu homônimo álbum MDNA, como o rap I Don't Give A, eram puladas por não parecerem tão interessantes. Também quando entrou no set list, não despertou curiosidade.

Contudo, é outra coisa ouvi-la e VÊ-LA no palco tocando sua guitarra e disparando frases sobre ser uma multimulher, com todos os encargos da vida moderna, anunciando o refrão "I'm gonna be ok/I don't care what the people say/I'm gonna be alright/gonna live fast and I'm gonna live right". Concluímos que é bem ela mesmo, que sua postura é assim e ela se coloca exatamente dessa forma. Viver como se deseja e não se importar com o que as pessoas dizem é mais uma dica.    


Então vem o último bloco e uma Joana D’arc hippie chic surge. Todo o estádio é atingido por raios de luz, a festa espiritual se instala e Madonna dança em slow motion passos de artes marciais. Daí em diante, ela reconhece que é uma pecadora, reza com Like a Prayer e retorna à profana pista de dança que nunca largou. Quem esperar recolhimento dessa pop star, é bom entrar no clima e rever seus conceitos, pois muita lenha ainda vai queimar. Ao que parece, o próximo dogma a ser posto por terra será o da velhice.



Fotos: Afroditesequiser e Marcelo Malta. 

sábado, 22 de setembro de 2012

Um novo lago em cada narrativa


Quando o Teatro Bolshoi encomendou ao compositor Tchaikovsky um balé dramático em quatro atos, a platéia presente em 1877 não se agradou do que viu. A interpretação da orquestra e dos bailarinos foi considerada fraca. Um século depois, O Lago dos Cisnes tornou-se referência do ballet clássico, especialmente após a montagem com Rudolf Nureyev e Margot Fonteyn, em 1966.



Em 2010, Natalie Portman incorporou uma bailarina em busca da perfeição, num thriller passado entre os bastidores e o palco da montagem do Lago dos Cisnes. Papel que lhe rendeu Oscar de melhor atriz e um sucesso de bilheteria. Quinze anos antes, o coreógrafo e bailarino Mathew Bourne ousou, quebrando o paradigma do par romântico príncipe/princesa, colocou em cena apenas homens dançando as partes dos cisnes.


Com uma adaptação livre do clássico O Lago dos Cisnes, Mathew Bourne's Swan Lake teve duas turnês de sucesso no Reino Unido, passando também por Los Angeles, Europa, Austrália e Japão. E esta semana, bailarinos e amantes da dança de várias regiões do brasil terão oportunidade de assistir, no cinema, em tecnologia 3D, a rica montagem que mescla elementos da broadway, da dança contemporânea e do ballet clássico.




A rede UCI Cinemas exibe o musical em várias sessões nos dias 22, 23, 25 e 27 de setembro (consultar http://www.ucicinemas.com.br/filme-4016-swan+lake+3d+de+matthew+bourne). O clássico contemporâneo tem no elenco Richard Winsor no papel do cisne principal - diga-se de passagem, talento e charme para dar e vender, além da experiente bailarina Nina Goldman, no papel da Rainha, a fria mãe do Príncipe, estrelado por Dominic North.


O filme é intenso e segue nume crescente. Para quem não consegue imaginar um pas de deux entre dois homens, vale a pena conferir e tirar suas próprias conclusões. O que se pode adiantar é que o talento e a técnica se fundem com a emoção e o que transborda é sensualidade e uma bela estética. Tudo regado ao mais puro Tchaikovsky. A tecnologia 3D quebra o gelo da tela para um espetáculo de dança. Por trás dos óculos dá para sentir-se um pouco além do cinema.




 Mathew Bourne's Swan Lake prova que uma estória tantas vezes recontada pode trazer novo olhar e novos questionamentos. Bom espetáculo!




sábado, 4 de agosto de 2012

A mulher mais rápida do mundo

Em época de olimpíadas, o marido, sentado no sofá, me chama.
- Mô, vem ver a mulher mais rápida do mundoooo!
Eu, da cozinha, rapidamente respondo:
- A mulher mais rápida do mundo sou eu, que acordo antes das 6, ponho as criaturas de pé, dou café, levo pra escola, pago conta, faço feira, chego no trabalho linda e loura, descasco abacaxis, pego engarrafamento na volta, confiro tarefa, boto pra dormir e ainda arrumo tempo pra fazer atividade física, ver tv, acessar FB, ler e escrever!
Pode, Freud?

domingo, 1 de julho de 2012

Mantra



Pensar magro e saudável, pensar magro e saudável, pensar magro e saudável, pensar magro e saudável, pensar magro e saudável, pensar magro e saudável, pensar magro e saudável, pensar magro e saudável... 

Conselho de quem tem dentro de si o pulsante desejo de escrever

Afrodite publica esse sublime conselho do Mestre Carlos Drummond sobre o ofício da escrita. Simples, despretensioso e quase compulsivo, é assim que se mostra o exercício. Afrodite compartilha de corpo e alma esse conceito.

      Conselho de Carlos Drummond de Andrade para sua filha, Maria Julieta. Trecho conseguido na rede social Facebook.


domingo, 3 de junho de 2012

MDNA TOUR - primeiras impressões




Falar sobre Madonna é algo fácil e ao mesmo tempo muito difícil. Falar sobre sua nova turnê, MDNA TOUR, que estreou há exatos dois shows, tem o mesmo desafio. Principalmente porque esse seu último trabalho é metalinguagem pura.

Dito isso, peço licença para declarar minhas primeiras impressões. Confesso que ao assistir, ansiosa, as postagens iniciais feitas pelo público de Tel Aviv, senti um misto de angústia e mais ansiedade. Não aparecia o que eu esperava, nada detalhava nada. Um pavoroso indício de non sense. Mas ela é assim. Aguarde e confirme.

Aos poucos a colcha de retalhos foi tomando comprimento e espessura. E ainda está em montagem, na minha cabeça e na de muitas pessoas que a acompanham. Porque isso é Madonna: aparentemente muito fácil, por ser pop e até kitsch. Mas não se engane, pois nenhum detalhe foi acrescido por acaso e tudo deságua nas mensagens que ela quer passar para o mundo.
 
MDNA Tour veio bem mais densa, onde a estrela dança pouco e canta mais, dispensando o tão usado playback. A leitura inicial é que a artista pretende afirmar sua mais nova reinvenção: uma estrela consagrada que atravessou décadas e que agora se dá ao luxo de falar sobre seu próprio ícone.

Para quem ainda está com a imagem de Sticky and Sweet Tour, leve, colorida, que tinha a dança como carro chefe, é hora de, como eu, ter a primeira decepção. Acompanhar o trabalho de Madonna é sentir um pouco dessa dual artista. Decepção e encantamento, dor e prazer, tristeza e alegria. E os sentimentos vem necessariamente nessa ordem, para a alegria de seus fãs.

S&S Tour falava sobre pop, hip hop, dança de rua. MDNA é mais teatral e fala sobre MADONNA. Uma revisita a sua carreira, que somente a dança não abarcaria. Há o recorrente tema religioso já na abertura, uma sagração ao sagrado e ao profano. O sutiã cone, usado em 1987 na Turnê “Who’s That Girl” foi novamente desenhado por Gautier, agora em uma versão 3D, se assemelhando a uma gaiola.

A polêmica, outro tempero que não pode faltar em sua vida, agora vem com a menção em palco aos comentários da mídia: a semelhança de Born This Way, de lady Gaga, com o hit Express Yourself. Tudo isso com uma inserção de segundos do refrão Born This Way, arrematado por She’s Not Me, música do álbum S&S. Atitude questionável, mas que já abriu discussão e repercussão, tendo muitos veículos deixado de analisar o todo do espetáculo para se deterem na questiúncula levantada por Madonna.

O tempo passou e isso Madonna deixa claro. Em contrapartida, afirma em suas imagens que ele apenas faz parte de sua obra, onde ela é a protagonista. É a velha mania madônica de mostrar quem manda. Releitura, reafirmação/afirmação. Os anos passaram e ela tem atravessado todas as ondas e geralmente se mantido no topo. A nova versão de Like a Virgin diz muito sobre isso: regada ao piano, aos 54 anos e com pouca roupa no palco, Madonna em alguns momentos canta se apoiando em uma bengala e em suas costas está escrito NO FEAR. É dizendo que não se deve ter medo que ela enfrenta seus próprios medos. E assim ela foi e é uma gigante e por isso tão amada e admirada. E assim será.

Fotos: imagens do Google.

segunda-feira, 23 de abril de 2012


ALGUÉM FICOU ARRETADO

Um dos princípios basilares do jornalismo é a imparcialidade. Cabe ao bom jornalista a capacidade de conhecer, entender e desenvolver a notícia de forma a trazer para o leitor/ouvinte/telespectador os fatos e deixar que ele tire suas próprias conclusões.

Entretanto, como humano que é, o profissional muitas vezes se deixa vencer por sentimentos, conceitos ou até mesmo propósitos outros que o distanciam desse ideal.

Os aspirantes à profissão, os focas, como são conhecidos na área, tiveram recentemente uma aula de como não se deve proceder em uma missão jornalística. Trata-se de um texto sobre a passagem do ex Beatle Paul McCartney na cidade de Recife, publicado em um site de uma revista especializada em música.

No caso, o ressentimento e o objetivo único de desqualificar a plateia local ficaram visíveis. Com tanto assunto para se falar, como a organização do evento, o repertório escolhido – afinal, o veículo é especializado em música – o autor tratou de iniciar falando sobre o calor excessivo.?!?!

Enquanto isso a cidade realmente pegava fogo, pois a cidade estava repleta de eventos culturais e tudo fervilhava ao mesmo tempo: Abril pro Rock, Chico Buarque, Cirque du Soleil, e peça do global Edson Celulari. Casas cheias nos quatro cantos. Sim, a cidade está se consolidando no circuito.

Paul Mccartney com o olhar perdido? Oi? Essa foi a pérola! O que se viu foi um cantor suado, é certo, mas bastante descontraído, curtindo a interação com o público que, como ele mesmo falou: Arretado!
 Acontece que no Nordeste, e especificamente em Pernambuco, a expressão “arretado” tem dois significados. Povo arretado, como o Paul disse, é algo muito legal, bom demais, trilegal, como dizem os gaúchos.

Mas também pode conotar alguém que ficou muito chateado, com raiva, ressentido. Agora voltando ao jornalista arretado, ainda foi dito que o público estava mais preocupado em tirar fotos de si mesmo do que do próprio show. Ou essa pessoa nunca frequentou os shows realizados nas cidades de São Paulo e Rio, ou o calor da plateia afetou sua capacidade de percepção. Tira-se fotos de si mesmo em qualquer lugar do mundo. Álbum de recordações, hoje virtual, é a coisa mais antiga do mundo. E as redes de relacionamento? Ele não conhece?

Não houve partida. Aconteceu um show de alta categoria, onde se sobressaíram a delicadeza e o carinho do cantor e sua banda para com o público. E a recíproca foi muito verdadeira: no gramado e nas arquibancadas uma plateia de todas as idades. Pais beatlomaníacos orgulhosos por estarem com seus filhos por lá. Pessoas que certamente apenas conheciam o refrão mas em plena harmonia com o alto astral que pairava sobre o Estádio do Arruda. Respeito e empatia recíprocos. Demais artistas nacionais e internacionais: PODEM VIR QUENTES QUE ESTAMOS FERVENDO!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Sobre a garota que ficou descontrolada

O dia 19 de março trouxe um certo alívio para os fãs de Madonna. Diante da expectativa do lançamento de seu 12º álbum para o próximo dia 26, os seguidores de seu trabalho puderam conferir o conteúdo graças ao vazamento na web.

Daí para a imprensa se manifestar foi um salto. E, apesar de a maioria da crítica ter uma visão positiva do novo trabalho, o olhar diferenciado de cada um é sempre a expressão da subjetividade. E como poderia ser diferente?

Para quem achava que do alto de seus 53 anos, a Madge iria adotar um estilo mais compatível para a idade, perdeu suas fichas. A rainha do pop continua mais pop do que nunca. E, possivelmente, não conseguiria tanto êxito em sua empreitada se fizesse outra coisa.

Seu primeiro vídeo da nova safra, após três anos do último – Celebration, empolgou uns e desapontou outros. Como tinha de ser. Imersa no papel de mãe de família e líder de torcida, Madonna, na estória, conta com a proteção e fidelidade de seus fãs, que a resguardam de ameaças constantes. As pupilas M.I.A. e Nicki Minaj engrossam o coro da torcida que saúda a rainha. “Só o amor pode fazer de você um jogador”, alfinetou logo na abertura do clipe.

O pop rende bem e Madonna sabe disso. Em 2007 assinou contrato com a Live Nation e se esmerou para emplacar os hits do novo álbum. Cercou-se de um bom time para fotografia, DJ, produção e o retorno ao staff de William Orbit, responsável pela produção de Ray of light, há doze anos.

De topete e cabelo longo, Madonna marcou presença ontem,25, em Miami, no Ultra Music Festival, para divulgar a faixa “Girl Gone Wild”. Incansável, falou para uma pista jovem, de igual para igual, e destacou que a música e a dança andam juntas.

Fica difícil, quase impossível, não adjetivar sua obra e sua persona, construída com trabalho duro e inteligência há trinta anos. Perspicaz, Madonna ainda sabe como ninguém manipular a estética pop que ajudou a construir. Ora provocativa ora catártica Madonna tem o toque de Midas e sabe como ninguém transformar amenidades em arte pop.

A reinvenção e movimento constante é um trunfo que a artista tem usado para atravessar as décadas de forma quase imbatível. E no contraponto da pueril temática de “Give me all your Luvin”, a carta seguinte é “Girl Gone Wild”, um vídeo provocante, caliente e de boa fotografia.

O segundo videoclipe da leva já está disponível no youtube, mas para acessar é preciso logar e garantir que se tem 18 anos. Nada de chocante, mas de forte apelo sensual. No ritmo da música eletrônica, a canção inicia com um tom confessional, onde a artista, num close, pede perdão a Deus e diz que se esforça para ser uma boa pessoa. Traço da culpa tão latina e católica inserida pelos cinco anos de convivência com sua mãe, e que marcariam o víeis de sua obra ao longo da carreira.

O contraponto prossegue porque logo em seguida, Madonna – a garota boa que ficou descontrolada - não se refreia em constatar o quão erótico e bom é entregar-se a uma pista de dança e a seus prazeres. Nesse clima, e numa excelente fotografia em preto e branco, o clipe segue com desfile de corpos de modelos – escolhidos a dedo, diga-se de passagem.

Outra boa sacada é a participação do grupo ucraniano “Kazaky”, sucesso na mídia por sua estética ousada. No vídeo, figuras masculinas longilíneas dançam o hit com suas calças legging e em cima de saltos altíssimos, questionando o limite entre o masculino e o feminino. A mistura contagia e algo traz à memória “Vogue” e “Erótica”.

A figura da garota que ficou descontrolada faz parte do controle da mídia pop, mais uma sacada da rainha. Título que ainda é seu e será difícil desbancá-lo. Mesmo que o tempo passe, que a voz não seja a mesma e que o fotoshop seja cada vez mais necessário. A cabeça e o corpo estão em forma e isso continua lhe garantindo o controle. 

domingo, 18 de março de 2012

O melhor e o pior de Marilyn


"Sou egoísta, impaciente e um pouco insegura. Cometo erros, sou um pouco fora do controle e às vezes difícil de lidar, mas se você não sabe lidar com o meu pior, então com certeza, você não merece o meu melhor! "

Ela nasceu  Norma Jeane Mortensen e não teve das melhores infâncias, já que não conheceu seu pai biológico, sua mãe foi internada em um hospício, tendo a pequena Norma que passar por orfanatos. 


De Los Angeles para as telas de cinema, percorreu caminho difícil. Entre um casamento aos dezesseis para fugir do orfanato, um curso de teatro e a proibição do marido, que resultou no primeiro divórcio, entraram as lentes fotográficas.


O feeling entre as lentes e Norma começou a chamar a atenção dos profissionais. Foi então que aconteceu o upgrade: De Norma para Marilyn Monroe. E é nessa etapa que o filme "Sete Dias com Marilyn" enfoca a artista que cativou o mundo com sua doçura e inocência provocantes.


O filme é inspirado no livro 'The Prince, The Show Girl and Me: Six Month on the Set with Marilyn and Olivier", de Colin Clark, à época, jovem assistente do aclamado diretor Laurence Olivier. O cenário é a Inglaterra e o set de filmagens de "O Príncipe Encantado".


Colin Clark, vários anos mais novo do que a musa, atraído por sua magnética beleza, percebe a fragilidade por trás de sua exuberância e passa a ser um protetor de Marilyn, que por sua vez encontrou alguém que segurava sua mão nos momentos em que o chão lhe faltava e a carência a tornava refém de si mesma.


A narrativa lidou com delicadeza ao trabalhar a inconstância de humor da artista. Tratou também de forma suave, porém firme, sobre sua carência de ter alguém ao seu lado. Algum tipo de lacuna emocional insuperável, o que lhe permitia identificar novos e novos "protetores" em sua trajetória bastidores afora.


A a interpretação e beleza etérea da atriz americana Michelle Williams fizeram jus à categórica afirmação sobre a monstruosidade de Marilyn perante as câmeras. Mensagem dita com todas as letras: as câmeras a amavam. E não é à toa que closes bem estudados deixam um rastro de êxtase na fisionomia de quem assiste ao filme.


O forte de "Sete Dias com Marilyn" é desnudar pouco da Marilyn e muito da Norma, ora nitidamente uma, ora nitidamente outra. Um ícone da cultura pop dos anos 50 que atravessou décadas com aura de admiração e mistério. Um pouco do quanto custou para ela ser tanto. 

domingo, 11 de março de 2012

O quintal de meu pai e o Melão de São Caetano

A casa de nossos pais tem um sabor especial. E geralmente só descobrimos isso quando nos lançamos mundo afora. Já com nossos filhos, a casa vira a casa dos netos e isso passa a ter uma outra conotação, uma pitada a mais de "especial".
Hoje foi um domingo desses. Vivi a casa de meu pai e a casa dos netos do meu pai. Domingo dia de juntar todos para um almoço. 
Mas antes de chegar ao meio do dia, a manhã começou com tranquilidade. Inspirar ar mais puro, a temperatura aprazível e uma serenidade não sei se na alma ou ao redor da casa.
 Acordar com um quintal para passear. Lembrei-me disso. Um diferencial para quem mora em apartamentos. E não é à toa que tento manter na varanda um pouco do quintal do meu interior. Mas hoje andei por entre as plantas, a goiabeira e os matos, pisando na terra, e revi a rama do Melão de São Caetano.
Quem já teve um quintal, certamente sabe do que estou falando. Aquela raminha delicada, verdinha, com flores  amarelo canário e que, de repente, põem um melãozinho dourado que aos poucos se abre em estrela, com sementes de um vermelho vivo! Posto aqui fotos tiradas in loco!
 Toda essa vibração de cores me levou diretamente ao quintal da casa onde vivi quanto tinha seis anos. Era cheio dessa rama. As flores, eu as achava lindas, mas o que me interessava mesmo era colher os melões. 
No meu imaginário, eram frangos que eu raspava com a faquinha e preparava com temperos de matos e terra, indo diretamente das panelinhas para a refeição de minhas bonecas. Havia também a flor branca silvestre que arrematava o jarro da mesa de refeição.
  A infância tem mesmo cheiro, imagem e gosto. E lá estava eu transportada no tempo, quando olhei mais adiante e vi minha filha com suas panelinhas cheias de sementes, terra e água, preparando o "almoço" daquele domingo. Aí já era hora de separar a louça para a refeição em família.
Da próxima vez que visitar meu pai, não posso esquecer de trazer sementes dessa rama. Vai que dá certo na minha varanda! Precisamos viver arrodeados das boas lembranças.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

"Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar" - Afrodite reverencia e homenageia Chico Science

"Modernizar o passado
É uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui
Não preciso delas!
Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos
O medo dá origem ao mal
O homem coletivo sente a necessidade de lutar
O orgulho, a arrôgancia, a glória
Enche a imaginação de domínio
São demônios que destroem o poder
Bravio da humanidade
Viva zapata!
Viva sandino!
Antônio conselheiro!
Todos os panteras negras
Lampião sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza eles também cantaram um dia."
Com esse monólogo ao pé do ouvido, o som de Chico Science e Nação Zumbi chegava dizendo a que veio. Era abril de 1995. Recife. E o evento era o "Abril pro Rock". Não lembro quais outras bandas tocaram nesse dia, mas não esqueço jamais do show que definiu qual dos dias eu estaria lá (as apresentações aconteciam da sexta ao domingo).



Manguegirls e mangueboys de carteirinha, pulsos firmes na cadência do refrão - Antene-se: "Sou, sou, sou, mangueboy!" O som era contagiante o suficiente para ninguém ficar parado: baixo,guitarra, tambores cadenciados e um vocalista que apresentava uma nova forma de sentir e pensar a música. Esse era Francisco de Assis França. Olindense mais conhecido como Chico Science, e que se tornou ícone do movimento manguebeat, acompanhado da Nação Zumbi.


Juntamente com o músico Fred 04, vocalista da banda Mundo Livre SA, um novo movimento efevercia de forma muito natural em Recife. A proposta musical era revisitar ritmos da cultura local arrematados por outros que aconteciam aqui e ali. Com o detalhe de que entre o aqui e o ali não havia dimensão e fronteira. Hip hop, música eletrônica, funk, rock. Modernizar o passado foi verdadeiramente uma evolução musical.


E todos já cantavam de cor as composições de Chico Science e Nação Zumbi, pois mangueboy que se prezasse não cansava de ouvir o primeiro cd do grupo, Da Lama Ao Caos, lançado em 1994. 

Voltando ao ano de 1995, no "Circo Maluco Beleza", tradicional casa de shows do Recife nos anos 90, o Abril pro Rock recebia grande público que se aglomerava do lado de fora para comprar os ingressos. Ansiedade e satisfação     eram meus sentimentos mais evidentes naquela noite do dia 08. 

Foi nessa mesma noite inclusive, ao som de SC&NZ que engatilhei um romance com meu futuro marido. Brincamos depois que ele - o Science - foi um dos padrinhos da nossa história. Não tenho a pretensão de aqui fazer análise da cena musical da época. Até porque o tema é por demais vasto e os artistas são muitos. Venho como fã e pessoa que vivenciou e testemunhou uma fase fértil e feliz do movimento cultural da cidade. Como alguém que hoje assiste aos documentários e diz: "Pôxa, isso fez parte da minha vida!"

Hoje, ao ouvirmos os acordes iniciais de "Praieira", onde quer que estejamos - se carnaval, se baile de formatura, não importa, é tudo muito familiar e universal. Todos sabem ao menos o refrão, pois "uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor". Quem discorda?


Em 96 veio o segundo álbum: Afrociberdelia. Como explicou o pesquisador Bráulio Tavares: "de África+Cibernética+Psicodelismo". Dando continuidade ao projeto Manguebeat, um disco mais, digamos, viajado. Mas em constante evolução musical. A capa de acrílico laranja com o selinho "edição especial tiragem limitada" me fez correr para as lojas e garantir o meu, que aqui posto fotos. Manguetown estourou, bem como a regravação com Gilberto Gil, de "Maracatu Atômico".


Após o play, a voz ritmada de Chico em "Mateus Enter" mais uma vez anuncia seus propósitos:


Eu vim com a Nação Zumbi
Ao seu ouvido falar
Quero ver a poeira subir
E muita fumaça no ar
Cheguei com meu universo
e aterriso no seu pensamento
Trago a luzes dos postes nos olhos
Rios e pontes no coração
Pernambuco embaixo dos pés
E minha mente na imensidão.


Então veio fevereiro de 1997. Na mesma intensidade da alegria em suas apresentações, tivemos o desprazer de receber a fatídica notícia da morte de Chico Science em plena noite de domingo. Eu e Marcelo estávamos em Caruaru, era dia dois, semana pré carnaval e nosso primeiro filho nasceria dois meses depois. Recebemos um telefonema de um amigo. A reação foi igual a de todos: não acreditar. A partida precoce aos 30 anos, deixou, até hoje, a sensação do quanto ele teria produzido e de até onde teria ido com sua mente na imensidão.

A cidade parou para dar adeus a seu ídolo. Lembro de não acreditar nas imagens que vi na tv: uma multidão, uma massa compacta de pessoas atônitas. Caminhou-se do Centro de Convenções ao Cemitério de Santo Amaro. E o som era Manguetown. O carnaval daquele ano aconteceu por inércia e não se comentava outra coisa.

Na semana pré carnavalesca que iniciava, iríamos ao bloco "Na Pancada do Ganzá", do músico Antonio Carlos Nóbrega, com quem CS&NZ tocariam e cantariam num trio elétrico, na Praia de Boa Viagem. A proposta era difundir ainda mais a cultura Mangue e literalmente abrir alas num universo tomado pelas bandas de Axé e abadás, em pleno Recifolia. 

O propósito imediato não se concretizou como planejado, mas como dito em "Um Passo No Mundo Livre", "Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar." Portanto, após  15 anos de sua partida, a cena musical pernambucana caminha dando continuidade a seus largos passos.


"Deixar que os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer/
deixar que os olhos vejam pequenos detalhes lentamente/
deixar que as coisas que lhe circundam estejam sempre inertes/
como móveis inofensivos/
pra lhe servir quando for preciso/
e nunca lhe causar danos morais, físicos ou psicológicos."

Corpo de Lama - Chico Science e Jorge Du Peixe.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Mais sobre "alma gêmea"

Sobre nossas eternas indagações existenciais - que não são poucas. Uma delas é sobre alguém que nos completa. A panela e a tampa, a xícara e o pires, e por aí vai. Casais, existem muitos. Mas se olharmos ao nosso redor, há de tudo um pouco. Gosto de olhar aqueles que se entrosam, que se entendem. Casais que funcionam. É muito legal. A Cumplicidade e a busca em comum por fazer dar certo, mesmo nas divergências.

A visão espírita sobre a existência ou não da alma gêmea, confesso que a princípio me decepcionou. Mas pensando melhor, é uma visão mais ampla e que abre portas a tantas possibilidades. O Livro dos Espíritos, em formato de perguntas e respostas, trata, nesse ponto, do que ele chama de "metade".

Ao responder se as pessoas caminhariam inevitavelmente para o encontro de sua metade, afirma que não existe união particular e fatal entre duas almas. E que se elas se completassem, separadas seriam incompletas.

Taí, gostei. Não é uma visão romântica, mas um modo de pensar que nos leva à autonomia. Somos um ser inteiro, completo enquanto indivíduo. Embora sociais, concluo. Afinal, poucos temos a aptidão para eremitas. 

domingo, 1 de janeiro de 2012

Início é sempre curioso


E chegamos em 2012! O primeiro dia é dia de gás. apesar da ressaca, temos aquele gostinho de recomeço. Tão inerente ao humano.

Renascer das cinzas. Arrumar gavetas (para quem não concluiu em 2011, like me), elencar no papel as metas que surgiram na cabeça e aquelas que ainda não executamos.

Contabilizei e percebi que esse é o quarto ano de Afrodite. Fico muito feliz, pois a blogosfera proporciona essa liberdade. A de escrever o que quero, na hora que quero, e no formato que acho mais interessante.

Como jornalista por formação, conheço e bem sei das prisões que determinadas linhas editoriais impõem aos meus colegas. Não que aqui não tenha a minha, mas a diferença é que por aqui quem as estabelece sou eu. E, se ainda não perceberam, prefiro fazer algo mais diletante, pero no mucho. Não gosto de debater sobre política, desgraça e outras cositas mas.

Futilidade? Não. Simplesmente já tem um monte de gente pra falar sobre isso. Tenho minhas convicções, ideologias, mas as transmito de forma reflexa, transversa. Ir direto ao ponto nesses assuntos é muito enfadonho para mim.

Chego aqui, olho Afrodite como mãe que admira seu rebento e me orgulho dela. Ora crônica, ora jornalística, ora cultural, ora nenhuma dessas coisas. Essa sim é a nossa proposta: permear o mundo sem maiores camisas de força.
Aos leitores amigos, um grato abraço. E que 2012 nos encontre abertos a novas oportunidades!