sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

G - 0 - R - D - A !


PARTE 1 - BALEIA ASSASSINA 

verão é uma estação reveladora. Revela toda a besteira que você comeu durante o iverno! Esse post ia sair ontem, mas graças a uma pane no notebook, ficou sendo mentalmente processado. E como geralmente nada é por acaso, certamente hoje sairá mais bem humorado.

 A questão do dia é quilos a mais. Eu já sabia. Só que fingia não saber, fingia que não ia me escravizar a padrões estéticos, fingia que estava tudo bem. A extensão do problema revelou-se em uma consulta de urgência a um angiologista. Um problema que vinha se agravando na perna me levou a um consultório ontem de manhã.

O médico, haviam me indicado. Entrei em sua sala cheia de esperanças de um remédio milagroso, umas aplicações, quem sabe, ou até mesmo uma nova cirurgia. Afinal, angiologistas fazem isso. E havia cancelado um almoço com amigas por conta do ocorrido.

Ensimesmado, sisudo, espondeu ao meu sonoro "bom dia". Fiz minhas queixas. Ele perguntou minha idade e rabiscou hieróglifos em sua ficha - daquelas que eu fazia resumos do que lia na faculdade. De cara, me perguntou: "A senhora está fazendo regime?" Até então apenas constrangida, respondi: "Estou tentando. Estou precisando, né?" (sorriso amarelo para pergunta idiota).

Após alguns exame clínicos, tipo tocar o dedo dos pés com as mãos e me agachar, veio a sentença: "você está precisando perder peso". Também pediu um exame específico, recomendou massagem com óleo, mas ESCREVEU, sim, ele ESCREVEU em seu receituário: Nutricionista - perder peso - e fazer hidroginástica. Ainda insisti, fiz um rosário de perguntas que, no melhor estilo Seu Lunga, balançou a cabeça negativamente como resposta.

Saí de lá com ÓDIO! Do médico, do mundo, de mim mesma! Eu já sabia. O sobrepeso passara dos limites. E eu, que nunca fui gorda, começava a sentir os sinais do malefício: vivia indisposta, o que muitas vezes me autocriticava como preguiça, os tornozelos inchavam, e estava ficando cansada, ofegante ao menor esforço.


PARTE 2 - VIDA DE SEREIA



Embora a consulta não tenha sido das mais esclarecedoras, foi reveladora. De volta pra casa, comprei  frutas, verduras e subi os sete andares de escada.  E se não observaram, escrevi meus sintomas no pretérito imperfeito. O mau humor encontrou espaço em todo o dia de ontem.



Graças a muita cacetada, aprendi que uma faixa vibratória pode ser transformada com atitudes. Hoje, ainda de má vontade, fui ao salão. Nada melhor do que uma boa depilação e um biquíni colorido. Na volta, subi  novamente de escada. Fui à praia com o marido. Andamos um pouco, e logo mergulhei na água verdinha, morninha. Uma delícia! Nadei bastante. Mais escadas na volta. Decidi que hoje estou começando a entrar em forma. Nem acreditei que resisti ao Caldinho da Jane e à minha cerveja gelada. Um ato de bravura! Estou de parabéns. Sei que não será fácil, mas farei o melhor. Por mim. E viva o verão!


Esclarecendo: o líquido da direita era do marido, que não se chama Mário. He he he.
E o almoço com as amigas, vou remarcar assim que estiver mais segura.


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

MDNA TOUR. MADONNA CONTINUA SE EXPRESSANDO E MANDANDO VER



Em 2008, quando a cantora Madonna voltou ao Brasil após 19 anos, desde The Girlie Show, cometi o disparate de não escrever sobre a experiência de ter estado na sua Sticky &Sweet Tour. As lembranças são muitas embora os detalhes vão ficando pouco a pouco para trás. Ao completar 30 anos de carreira, Madonna novamente pôs o pé na estrada com sua MDNA Tour, momento propício para minha redenção.


Pois bem. Os clichês permeiam a condição humana e com a cantora pop não tem sido diferente. O sexo, a beleza, a pobreza, a religião, o preconceito, todas essas referências e um sem número de outras estão em suas estórias, suas letras e, principalmente, em suas imagens.


Mas há um quê em seu olhar intenso o suficiente para transcender a aparência do próprio lugar comum. Há uma força transformadora em sua narrativa. Mesmo que previsível.


Contraditoriamente, ao longo dessas três décadas, seu combate tem sido contra os lugares comuns. Para quem alarda que uma senhora de 54 anos deve ser dar ao respeito e se recolher às portas da velhice, Madonna se apresenta como a pecadora que aspira ser uma boa garota, ou vice-versa. Como a mulher assustada que mata o amante com um tiro na cabeça, vira líder de torcida para em seguida fazer um streap.


Aliada a essa postura, a MDNA Tour trouxe um aparato tecnológico admirável com recursos de telões e painel de última geração, bailarinos afiados e figurino diversificado. Mas quem dá vida a toda essa parafernália é sem dúvida a dona da festa.

Com uma resistência física espantosa, a rainha do pop dança e muito, interpreta, canta e comanda seu show. Pernas e braços trabalhados de dar inveja a muita jovem, a superstar chega anunciada por um coro religioso. Reza, pede perdão a Deus e, com uma arma em punho, destrói a própria catedral virtual. Começa aí a desconstrução de dogmas. Monges tiram suas capas e se transformam em dançarinos em Girl Gone Wild, dando boas vindas à festa profana.


Algumas músicas são playback, é fato. Mas quem daria conta, por quase duas horas, de cantar e dançar daquele jeito? Em todo caso, dessa vez ela lançou mão do recurso menos do que em S&S.
Na verdade, essa questão é a que menos importa diante da linguagem tão madônica de seu show. Sua dança e sua energia provocadora envolvem o diversificado público. No Estádio do Morumbi, em são Paulo, havia héteros convictos, homossexuais assumidos, pais com seus filhos adolescentes, jovens, velhos, gente pra todo o gosto. Era a prova viva do refrão “Music makes the people come together.”


No primeiro dia do show em São Paulo, quem chegou cedo foi presenteado com uns 40 minutos de ensaio. A histeria foi grande quando a cantora surgiu ao fundo do palco, toda de preto, luvas e boné, conversando com sua equipe.


Ensaiou a abertura, Revolver, Papa Don’t Preach, I Don’t Give A, o trio Express Yourself/Turn Up The Radio/Give Me All Your Luvin, I'm a sinner e Celebration. E também Vogue, que interrompeu e repetiu várias vezes por conta de uma falha técnica. Quem estava na santa grade testemunhou melódicas broncas em seu staff. Mas também falou com os espectadores, tirou algumas brincadeiras e disse um "obrigada" ao se retirar do palco.


Anoiteceu e o público enfrentou a cansativa espera. Para quem estava na pista premium e chegou cedo, ir ao banheiro era um ato de desprendimento e coragem, pois corria o risco de perder seu lugar mais próximo da diva. Gente de tantos lugares se amontoavam. O atraso de duas horas e a irritação foi esquecida de um segundo para o outro quando a cantora entabulou o seu primeiro “Oh my God!”.


O seu painel de LED, o maior do mundo, é um show à parte. Integrado ao contexto de sua música, exibe imagens que complementam e explicitam as mensagens. De Michelângelo, com as telas de “O juízo final” e “O toque de Adão” a imagens de santos, Madonna afirma que o sagrado e o profano estão em cada um. Em Express Yourself, desenhos da Pop Art das décadas de 40/50. Detalhe para o desenho de uma dona de casa típica dos anos 50, com um lenço amarrado na cabeça, e que mostra seu dedo médio. O questionamento é implícito: As mulheres precisam se conformar com uma só condição?


No terceiro e penúltimo bloco, o inesperado: após cantar Human Nature/Erótica, improvisa um streaptease, veste a camisa de um fã e some palco adentro sem cantar a tão esperada Like a Virgin. O sussurro é geral e ninguém entendeu. A dose se repete no dia seguinte e até hoje não se tem uma explicação. Ao menos oficial, pois as teorias são muitas: O piano seguiu direto para Porto Alegre (onde ela também não cantou), o espartilho a estava machucando, ela cansou de cantar o hit, foi por conta do tipo de público, enfim. Se há uma falha imperdoável, essa ela cometeu e não explicou. E nem vai. "Its human nature."


A presença de Madonna é algo muito forte. Ela é atitude. Algumas canções de seu homônimo álbum MDNA, como o rap I Don't Give A, eram puladas por não parecerem tão interessantes. Também quando entrou no set list, não despertou curiosidade.

Contudo, é outra coisa ouvi-la e VÊ-LA no palco tocando sua guitarra e disparando frases sobre ser uma multimulher, com todos os encargos da vida moderna, anunciando o refrão "I'm gonna be ok/I don't care what the people say/I'm gonna be alright/gonna live fast and I'm gonna live right". Concluímos que é bem ela mesmo, que sua postura é assim e ela se coloca exatamente dessa forma. Viver como se deseja e não se importar com o que as pessoas dizem é mais uma dica.    


Então vem o último bloco e uma Joana D’arc hippie chic surge. Todo o estádio é atingido por raios de luz, a festa espiritual se instala e Madonna dança em slow motion passos de artes marciais. Daí em diante, ela reconhece que é uma pecadora, reza com Like a Prayer e retorna à profana pista de dança que nunca largou. Quem esperar recolhimento dessa pop star, é bom entrar no clima e rever seus conceitos, pois muita lenha ainda vai queimar. Ao que parece, o próximo dogma a ser posto por terra será o da velhice.



Fotos: Afroditesequiser e Marcelo Malta.