segunda-feira, 26 de março de 2012

Sobre a garota que ficou descontrolada

O dia 19 de março trouxe um certo alívio para os fãs de Madonna. Diante da expectativa do lançamento de seu 12º álbum para o próximo dia 26, os seguidores de seu trabalho puderam conferir o conteúdo graças ao vazamento na web.

Daí para a imprensa se manifestar foi um salto. E, apesar de a maioria da crítica ter uma visão positiva do novo trabalho, o olhar diferenciado de cada um é sempre a expressão da subjetividade. E como poderia ser diferente?

Para quem achava que do alto de seus 53 anos, a Madge iria adotar um estilo mais compatível para a idade, perdeu suas fichas. A rainha do pop continua mais pop do que nunca. E, possivelmente, não conseguiria tanto êxito em sua empreitada se fizesse outra coisa.

Seu primeiro vídeo da nova safra, após três anos do último – Celebration, empolgou uns e desapontou outros. Como tinha de ser. Imersa no papel de mãe de família e líder de torcida, Madonna, na estória, conta com a proteção e fidelidade de seus fãs, que a resguardam de ameaças constantes. As pupilas M.I.A. e Nicki Minaj engrossam o coro da torcida que saúda a rainha. “Só o amor pode fazer de você um jogador”, alfinetou logo na abertura do clipe.

O pop rende bem e Madonna sabe disso. Em 2007 assinou contrato com a Live Nation e se esmerou para emplacar os hits do novo álbum. Cercou-se de um bom time para fotografia, DJ, produção e o retorno ao staff de William Orbit, responsável pela produção de Ray of light, há doze anos.

De topete e cabelo longo, Madonna marcou presença ontem,25, em Miami, no Ultra Music Festival, para divulgar a faixa “Girl Gone Wild”. Incansável, falou para uma pista jovem, de igual para igual, e destacou que a música e a dança andam juntas.

Fica difícil, quase impossível, não adjetivar sua obra e sua persona, construída com trabalho duro e inteligência há trinta anos. Perspicaz, Madonna ainda sabe como ninguém manipular a estética pop que ajudou a construir. Ora provocativa ora catártica Madonna tem o toque de Midas e sabe como ninguém transformar amenidades em arte pop.

A reinvenção e movimento constante é um trunfo que a artista tem usado para atravessar as décadas de forma quase imbatível. E no contraponto da pueril temática de “Give me all your Luvin”, a carta seguinte é “Girl Gone Wild”, um vídeo provocante, caliente e de boa fotografia.

O segundo videoclipe da leva já está disponível no youtube, mas para acessar é preciso logar e garantir que se tem 18 anos. Nada de chocante, mas de forte apelo sensual. No ritmo da música eletrônica, a canção inicia com um tom confessional, onde a artista, num close, pede perdão a Deus e diz que se esforça para ser uma boa pessoa. Traço da culpa tão latina e católica inserida pelos cinco anos de convivência com sua mãe, e que marcariam o víeis de sua obra ao longo da carreira.

O contraponto prossegue porque logo em seguida, Madonna – a garota boa que ficou descontrolada - não se refreia em constatar o quão erótico e bom é entregar-se a uma pista de dança e a seus prazeres. Nesse clima, e numa excelente fotografia em preto e branco, o clipe segue com desfile de corpos de modelos – escolhidos a dedo, diga-se de passagem.

Outra boa sacada é a participação do grupo ucraniano “Kazaky”, sucesso na mídia por sua estética ousada. No vídeo, figuras masculinas longilíneas dançam o hit com suas calças legging e em cima de saltos altíssimos, questionando o limite entre o masculino e o feminino. A mistura contagia e algo traz à memória “Vogue” e “Erótica”.

A figura da garota que ficou descontrolada faz parte do controle da mídia pop, mais uma sacada da rainha. Título que ainda é seu e será difícil desbancá-lo. Mesmo que o tempo passe, que a voz não seja a mesma e que o fotoshop seja cada vez mais necessário. A cabeça e o corpo estão em forma e isso continua lhe garantindo o controle. 

domingo, 18 de março de 2012

O melhor e o pior de Marilyn


"Sou egoísta, impaciente e um pouco insegura. Cometo erros, sou um pouco fora do controle e às vezes difícil de lidar, mas se você não sabe lidar com o meu pior, então com certeza, você não merece o meu melhor! "

Ela nasceu  Norma Jeane Mortensen e não teve das melhores infâncias, já que não conheceu seu pai biológico, sua mãe foi internada em um hospício, tendo a pequena Norma que passar por orfanatos. 


De Los Angeles para as telas de cinema, percorreu caminho difícil. Entre um casamento aos dezesseis para fugir do orfanato, um curso de teatro e a proibição do marido, que resultou no primeiro divórcio, entraram as lentes fotográficas.


O feeling entre as lentes e Norma começou a chamar a atenção dos profissionais. Foi então que aconteceu o upgrade: De Norma para Marilyn Monroe. E é nessa etapa que o filme "Sete Dias com Marilyn" enfoca a artista que cativou o mundo com sua doçura e inocência provocantes.


O filme é inspirado no livro 'The Prince, The Show Girl and Me: Six Month on the Set with Marilyn and Olivier", de Colin Clark, à época, jovem assistente do aclamado diretor Laurence Olivier. O cenário é a Inglaterra e o set de filmagens de "O Príncipe Encantado".


Colin Clark, vários anos mais novo do que a musa, atraído por sua magnética beleza, percebe a fragilidade por trás de sua exuberância e passa a ser um protetor de Marilyn, que por sua vez encontrou alguém que segurava sua mão nos momentos em que o chão lhe faltava e a carência a tornava refém de si mesma.


A narrativa lidou com delicadeza ao trabalhar a inconstância de humor da artista. Tratou também de forma suave, porém firme, sobre sua carência de ter alguém ao seu lado. Algum tipo de lacuna emocional insuperável, o que lhe permitia identificar novos e novos "protetores" em sua trajetória bastidores afora.


A a interpretação e beleza etérea da atriz americana Michelle Williams fizeram jus à categórica afirmação sobre a monstruosidade de Marilyn perante as câmeras. Mensagem dita com todas as letras: as câmeras a amavam. E não é à toa que closes bem estudados deixam um rastro de êxtase na fisionomia de quem assiste ao filme.


O forte de "Sete Dias com Marilyn" é desnudar pouco da Marilyn e muito da Norma, ora nitidamente uma, ora nitidamente outra. Um ícone da cultura pop dos anos 50 que atravessou décadas com aura de admiração e mistério. Um pouco do quanto custou para ela ser tanto. 

domingo, 11 de março de 2012

O quintal de meu pai e o Melão de São Caetano

A casa de nossos pais tem um sabor especial. E geralmente só descobrimos isso quando nos lançamos mundo afora. Já com nossos filhos, a casa vira a casa dos netos e isso passa a ter uma outra conotação, uma pitada a mais de "especial".
Hoje foi um domingo desses. Vivi a casa de meu pai e a casa dos netos do meu pai. Domingo dia de juntar todos para um almoço. 
Mas antes de chegar ao meio do dia, a manhã começou com tranquilidade. Inspirar ar mais puro, a temperatura aprazível e uma serenidade não sei se na alma ou ao redor da casa.
 Acordar com um quintal para passear. Lembrei-me disso. Um diferencial para quem mora em apartamentos. E não é à toa que tento manter na varanda um pouco do quintal do meu interior. Mas hoje andei por entre as plantas, a goiabeira e os matos, pisando na terra, e revi a rama do Melão de São Caetano.
Quem já teve um quintal, certamente sabe do que estou falando. Aquela raminha delicada, verdinha, com flores  amarelo canário e que, de repente, põem um melãozinho dourado que aos poucos se abre em estrela, com sementes de um vermelho vivo! Posto aqui fotos tiradas in loco!
 Toda essa vibração de cores me levou diretamente ao quintal da casa onde vivi quanto tinha seis anos. Era cheio dessa rama. As flores, eu as achava lindas, mas o que me interessava mesmo era colher os melões. 
No meu imaginário, eram frangos que eu raspava com a faquinha e preparava com temperos de matos e terra, indo diretamente das panelinhas para a refeição de minhas bonecas. Havia também a flor branca silvestre que arrematava o jarro da mesa de refeição.
  A infância tem mesmo cheiro, imagem e gosto. E lá estava eu transportada no tempo, quando olhei mais adiante e vi minha filha com suas panelinhas cheias de sementes, terra e água, preparando o "almoço" daquele domingo. Aí já era hora de separar a louça para a refeição em família.
Da próxima vez que visitar meu pai, não posso esquecer de trazer sementes dessa rama. Vai que dá certo na minha varanda! Precisamos viver arrodeados das boas lembranças.