sábado, 21 de março de 2009

Homenagem tardia


Há mais ou menos um mês eu zapava pela TV, quando vi um programa do Sílvio Santos, num dia de semana à noite, onde o entrevistado era ninguém menos do que Clodovil. Esse entrevistado acalmou meus dedos nervosos no controle remoto e prendeu minha atenção. Como fez a vida inteira.
Sempre o acompanhei na televisão, antes de iniciar seu período de “exílio”, ou como queiram outros, da geladeira, jargão comum no meio.
A intimidade com a comunicação e a facilidade de articular palavras precisas para expressar suas idéias sempre foi motivo para admirá-lo. E acima de qualquer coisa, sua autenticidade e sua coragem de simplesmente ser ele mesmo. Coisa rara. Digo que ele foi muito mais “macho” do que grande parte dos héteros.
Na entrevista ele tinha que responder perguntas dizendo apenas a verdade. Então ele falou sobre sua época de universitário, quando ficava rabiscando modelos no caderno, bem como de uma colega que percebeu seu dom e o incentivou a mostrar seus desenhos para grandes lojas de tecido.
Falou também de sua sexualidade e do problema de próstata que teve. E foi muito sublime ao abordar o prazer. Disse que já não mais podia ter o prazer da forma tradicional, mas que o corpo como um todo é um propiciador de prazer e de gozo. Focalizou o prazer na mente. Sábio homem dando dica para os que se acham caso perdido.
Nasceu em 1937, no interior de São Paulo e foi adotado por pais de origem espanhola, porém nunca conheceu seus pais biológicos. Foi educado em colégio interno por padres católicos e formou-se professor.
Irreverente, trouxe a moda para perto das pessoas. Foi precursor de muitos valores, levando ao povo brasileiro a consciência estética que não obrigatoriamente deve depender de condição econômica. Socializou a moda.
Findou Deputado Federal, um dos mais votados no estado de São Paulo. Participava da Comissão de Direitos Humanos e da Minoria. Apresentou um grande número de propostas, dentre elas a redução do número de Deputados na Câmara.
Descanse em paz e que sua rota seja conhecida através das gerações. Precisamos de pessoas assim para nos inspirar. Finalizo bem ao estilo Madonna, que não sei se ele admirava, mas que prega o mesmo lema seu: “Express yoursel!”.
Segue depoimento da minha amiga Egline:
Clodovil Hernandes

Quem não conheceu a vida desse homem irreverente, de língua afiada e que desafiou o mundo, pelos seus ideais.

Acredito que não tenha sido fácil, mas ele conseguiu ser quem ele quis, talvez não na sua totalidade, mas na grande maioria do tempo.

Xingado por uns e amado por outros, odiado com certeza, mas fica o exemplo de que - ser do bem - não significa ser igual a todo mundo. Até porque, nunca agradamos a todos. E cada um de nós traz dentro de si algo que difere do outro, mas representar o mundo da moda, assumir sua homossexualidade e ser respeitado num tempo de tamanha repressão e preconceitos, isso foi genial.

Não importa aqui e agora seus deslizes morais(que nem acho que os teve tanto, porque quem não os tem e quem somos nós para querer e poder julgá-lo), seus fracassos pessoais, suas frustrações e pequenos escândalos... O que pesa nesse momento é sua seriedade, serenidade, inteligência, bondade e seu amor para com o próximo e tudo de bom que ele pode fazer e realizar, nessa vida, e, passar para aqueles a quem amou e se dedicou.

Aos 71 de idade, ele sai desse planeta conturbado, porém, viveu seus momentos de glamour, decadência financeira(segundo as más línguas) e sobreviveu aos preconceitos, contudo, deixou o seu legado...
A ele meus aplausos, meu respeito e minha admiração.

Revolta todos nós temos, em algum momento de nossas vidas, mas viver uma vida do jeito que se deseja assumidamente, enfrentando uma sociedade e uma humanidade de valores tão distorcidos, é um ato de coragem e de amor a si próprio.

Siga em paz nessa nova jornada que se inicia.

Egline Santana.21/03/2009

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