sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

OS PIOLHOS SILENCIOSOS

Como os amigos já sabem, tenho dois filhos: um menino prestes a fazer 12 e uma menina prestes a fazer 5. No final de 2008, alguns dias depois de chegar do show de Madonna – claro, tenho que falar nela de alguma forma – me deparei com uma versão trash das pragas do Egito aqui em casa: piolhos!
Aparentemente começou por minha filha, que logo substituiu a bela escova cor-de-rosa por aqueles pentinhos básicos que todos já conhecemos um dia. Foram mais de sete dias tentando acabar com o hospedeiro indesejado.
Como as coisas sempre podem piorar ou melhorar, dependendo do grau de otimismo do momento, estranhamente elas pioraram. O garoto, que está cheio de maneirismos e comportamentos inusitados, próprios da fase, enfiava as duas mãos na cabeça com uma coceira frenética, deixando a bela cabeleira desalinhada. O tratamento dobrou.
A essa altura, já gastos bons reais – ninguém pense que cuidar de piolhos é barato –eu me perguntava de onde estavam vindo tantos ectoparasitas. E mais, se os de hoje eram de uma geração meio ninja, com alto grau de resistência aos tratamentos ditos eficazes. A pequena já estava de férias há semanas, bem como o maior. Onde teriam pegado?
Finalmente consegui exterminá-los aqui em casa. Não queria, de jeito algum, iniciar 2009 com esse tipo de mazela. Vai que dá azar. Só que aconteceu um revival, bis, parou por quê, algo do tipo. Meu garoto novamente com uma criação de dar inveja aos macacos da Mata Atlântica!
Pra resumir a situação, me achei na obrigação de comunicar aos amigos dele aqui do prédio: umas nove crianças, entre meninos e meninas, a maioria com uma vasta cabeleira! Tratando-se de uma comunidade, o problema deveria ser cuidado em conjunto, assim como é feito nas escolas, com todas aquelas circulares.
A surpresa veio quando falei com as mães. Pelo que entendi, seus filhos estavam sim com piolhos e continuavam descendo e circulando normalmente pelos apartamentos dos amigos. Sem nenhuma palavra, nenhum aviso. Ou seja: uma web piolhística retroalimentada! Agradeceram-me gentilmente e seguiram suas rotinas.
Confesso que me senti constrangida antes de pegar no interfone e dar a notícia a vizinhos que nem tenho intimidade. Mas achei que teria que fazê-lo. Não quero parecer a certinha da história, mas tudo isso me levou a refletir sobre como nos condicionamos a viver, mesmo sem percebermos, num padrão individualista e isolado. Pra não falar no odiado politicamente correto. É como se tudo estivesse em seu devido lugar, num mundo de caos instalado.
Talvez eu tenha exagerado na proporção do problema. Mas muitas vezes sofremos bem mais por dar aquele sorriso que não gostaríamos de dar. Vivemos numa esfera em que nossa fraqueza é a arma do outro. A do vizinho, a do colega de trabalho, a de um desafeto. E, à noite, acalentamos nossas inseguranças com ansiolíticos, homeopáticos ou não. O monstro está adormecido.
Por isso, faço minhas as palavras da nossa fantástica MADONNA: “Express yourself”. Não seria melhor enfrentar o inseto cosmopolita do que o monstro adormecido que mora embaixo de nossas camas? Ter piolho realmente não é elegante. Mas, aqui pra nós, quem se mantém elegante o tempo todo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário