sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Crônica de um dia de férias

Crônica de um dia de férias


Após pagar religiosamente as contas do início do ano, e após um dia exaustivo de faxina, acordo meio perdida sobre o quê fazer no dia de hoje. Minha caçula vai para a casa da melhor amiga, e eu, como estou dentro do padrão mãe/24 hs – minha secretária também está de férias – estranho o dia desocupado que virá.
Mas aí terei a companhia do esposo, que só pegará hoje às 11 horas no trabalho. Ledo engano. Ele, já pronto, me diz um tchau, até mais tarde. Como assim? Pergunto. Vem uma desculpa esfarrapada qualquer e sigamos adiante.
Junto com ele vai minha caçula que dá um despretensioso tchau já segurando a porta – nem abraço e nem beijinho – e vai para a brincadeira. Olho em volta, resta meu aborrecente, ainda dormindo. Mas já são 9:30, posso chamá-lo para ir à praia comigo.
Ledo engano. Ele abre o olho esquerdo e pesadamente levanta a cabeça. A resposta vem em um sonoro e aborrecido “ÔÔ mãe, não tô a fim. Eu quero dormir!”. Sabe do que mais? Lembrei-me de quando também era aborrecente e metia as trombas para fazer as coisas sozinha – eu adorava fazer coisas sozinha - e minha mãe perguntava: “Mas vai sozinha?” “Não vai com ninguém?” Minha resposta era rápida e cortante: “Por acaso eu nasci pregada com alguém?”
Pois então. Se era tão fácil na adolescência, por que não é hoje? Hábitos ao longo dos anos. Mas aí, freando um pouco a ousadia, botei um maiô, – biquíni já seria demais, haja vista o anexo abdominal que tenho cultivado. Meio quilo de protetor solar, óculos escuros e meu novo corte de cabelo – channel. Segui adiante. Uma longa reta. Longa o suficiente para pensar em desistir, deitar-me na cama, ler, dormir, resmungar, atender telefone...
A areia estava convidativa. Pisei. Que delícia! Um paraíso na terra! O mar verde e brilhoso com o reflexo do sol. Céu azul. Caminhei e vi ao longo do percurso um monte de mães/24 hs com suas crias. Vi também outro punhado de mulheres de biquíni com vários anexos, até bem mais do que eu, mas que pareciam invisíveis, porque elas não estavam nem aí. Achei legal.
Entrar na água foi como transpor a barreira do tempo. Senti-me a mesma aborrecente malcriada e livre. Mergulhei várias vezes. Em sensações muito prazerosas: de amor pela vida e por mim. Banhar-me nessas águas é uma dádiva. Sorri sozinha várias vezes. Não esqueci de agradecer a Deus pela oportunidade da vida e de estar ali. E por ali fiquei um bom tempo. Praia lotada!
Sair foi um sacrifício. Quanta gente aproveitando a vida! Irei mais vezes. Agora, após o banho e mais meio quilo de hidratante, ao som – bem alto – de Madonna, traço essas rápidas linhas. É bom estar viva, sentir-me viva principalmente. Não esquecer-me em algum diário antigo. E, aqui pra nós, não nasci pregada com ninguém mesmo.
Recife, 07 de janeiro de 2009.

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