Uma lateralização nas duas
patelas – o que antigamente chamávamos de rótulas – me levou a uma clínica de
fisioterapia. Inicialmente vinte sessões para ver no que dá. Mas o texto hoje
não é exatamente sobre meus joelhos. É sobre o que leva cada um de nós a
determinados lugares e a forma como lidamos com isso.
Quem comparece a uma clínica de
fisioterapia e passa pela sala de espera entende o que vou dizer. Dá para, ao
longo de vinte sessões, por exemplo, escrever um tratado sobre a criação do
mundo: A Teoria Cosmológica e seu big bang, a Bíblia e Adão e Eva e tantas
outras teses discutidas em mesa de bar, nos templos religiosos e na Academia.
Pois bem, no primeiro dia,
desprevenida, não levei nada e fiquei aprendendo como fazer o falso channel,
transformando cabelos longos em “curtinhos bob”, morri de ódio lendo que as
atrizes magrelas são magrelas porque... bebem água! E me benzi três vezes ao
ouvir uma senhora que após confessar só conseguir dormir quando toma rivotril
conjugado com outro lá, ensinou a outra mulher como faz para afastar as
pretendentes de seu filho (que pela idade da mãe, julgo já ser bem barbadinho).
Segundo dia, lá estava eu e
Christian. Aquele mesmo! O GRey! Delícia! Já estou no terceiro livro. Pronto,
achei o lugar mais sossegado da face da terra para lê-lo sem ser interrompida.
A não ser quando me chamam para iniciar a sessão. Aí começa a segunda parte.
Hoje dividi a sala do tens
(aquele choquinho) com uma senhora que me chamou a atenção pela elegância. Em
forma, toda cuidada. Sobrancelhas e unhas impecáveis. Choquinho em um dos
joelhos e na cervical. Começamos com um papinho tímido pra quebrar o gelo.
Daqui a pouco, já estávamos falando sobre os desafios da vida, criação de
filhos, etc. Ela, em toda sua tranquilidade natural, me falou que tem dois
filhos e que um deles se relaciona há mais de treze anos com uma mulher vinte e
três anos mais velha. Obviamente usou a palavra “coroa”.
O filho
hoje tem trinta e três. Mentalmente fiz as contas. E a pergunta que silenciei
ela respondeu: “É claro que nunca fui contra e nunca disse absolutamente nada
de negativo com sua namorada. Eu sou louca? Quero o meu filho junto de mim! Se
eu fosse contra, é lógico que iria perdê-lo. Quero a felicidade dele”.
A sua inteligência me fascinou.
Obviamente que aquela situação para uma senhora de seus, não sei ao certo, mas
imagino sessenta e poucos anos, não deve ser assim tão simples de digerir. Mas
ela teve equilíbrio e inteligência suficientes para no mínimo respeitar. E
entender que o que importa é que o filho seja feliz!
Ainda fui para a sala da
ultrassom e conversei com outras pessoas. Mas a personagem de hoje muito me
ensinou. A voz da sabedoria falando ao vivo e a cores. O verdadeiro amor de
mãe. O que pode até não aceitar, mas respeita e deseja, de verdade, a
felicidade do filho. E assim é a vida. E assim é o dia a dia nessas clínicas. E
ainda me faltam dezesseis sessões!
Deve ter sido uma experiência interessante, conversar com essa senhora...obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirBeijos