quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Da Santa Ceia para o roteiro

         Há anos não assistia novelas. Fazendo bem as contas, a última foi O Clone, em 2001. Não por esnobismo intelectual, mas porque elas viciam mesmo e, quando você vê, já são oito, dez meses de noites e noites a fio. Confesso que comecei a assistir Amor à Vida por conta do deus grego Mateus Solano (adooro!). E permaneci por conta do impagável Félix e seu humor negro. Personagem tão polêmico quanto carismático.

      Entretanto, o que observo é que as temáticas são diferentes, mas todas as novelas globais precisam seguir uma fórmula que, infelizmente, faz sucesso com os telespectadores: um dos takes indispensáveis é a surra que alguém vai dar em alguém. Essa inclusive é capa e garante boa tirada em revistas de TV. O outro item que, ao meu ver, está começando a azedar a trama é a VINGANÇA, em caps lock mesmo. Não por ela em si, mas pela mão pesada no ingrediente, com direito a chamada quase conclamando o telespectador a fazer o mesmo. Vou observar os próximos capítulos para poder concluir se foi o Félix que salgou a Santa Seia ou se foi o Carrasco que salgou seu próprio roteiro.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A VIDA NUM MODAL DE 46 LUGARES

Quem anda de ônibus quase nunca está sozinho. Ando relativamente satisfeita com meu novo modal para ir ao trabalho. Modal, porque preciso usar um palavreado in, e relativamente, porque o ônibus no Brasil ainda é um dinossauro que precisa evoluir.

Retornando ao contentamento, a viagem no dito já começa na parada, enquanto observo o pessoal. Meu gosto específico é pelos adolescentes, que reconheço de longe, pois normalmente andam em bando. Ô gente descolada! Minha atenção apura na linguagem, mais corporal do que verbal. Entre um mascado de chiclete e outro, soltam duas palavras que são rapidamente entendidas pelo outro, e percebo que significaram um parágrafo inteiro, tá ligado?

Outro atrativo é a facilidade com que as pessoas chegam e falam de suas vidas. Sem maiores pudores, sem maior cerimônia. Semana passada, sentei ao lado de uma moça que deveria ter os seus trinta anos. Em coisa de quinze minutos fiquei por dentro de um recrutamento de pessoas para irem trabalhar no Canadá. A criatura estava indignada com os requisitos, pois tinha que pagar a passagem e se bancar, além de comprovar ser titular de uma poupança vultosa. “Ou seja, a pessoa tem que ter uns quinze mil”. Nossa, tá russo, viu?

Hoje foi ótimo! Uma mulher de seus quarenta e poucos estava na parada, e quando me aproximei, me olhou e já começou o papo como se já estivesse em andamento. “É muito sério esse calor. E a culpa é desses carros! A situação do Haiti, o tufão, tudo é isso.” Eu só balançava a cabeça. Após a síntese do efeito borboleta, arrematou: “E a Presidente Dilma já falou! ” Valei-me. Não deu para esperar o nexo, pois meu transporte chegou.


O fato é que tenho me sentido mais leve, menos refém de carro. Caminho pelo quarteirão, observo a paisagem e descubro lojas que nem tinha percebido e ainda conheço figuras. Por fim, como minha veia jornalística ainda encontra-se em bom estado, entre um solavanco e outro do moto, possô escrever em meu bloquinho.