Quem anda de ônibus quase nunca
está sozinho. Ando relativamente satisfeita com meu novo modal para ir ao
trabalho. Modal, porque preciso usar um palavreado in, e relativamente,
porque o ônibus no Brasil ainda é um dinossauro que precisa evoluir.
Retornando ao contentamento, a
viagem no dito já começa na parada, enquanto observo o pessoal. Meu gosto
específico é pelos adolescentes, que reconheço de longe, pois normalmente andam
em bando. Ô gente descolada! Minha atenção apura na linguagem, mais corporal do
que verbal. Entre um mascado de chiclete e outro, soltam duas palavras que são
rapidamente entendidas pelo outro, e percebo que significaram um parágrafo
inteiro, tá ligado?
Outro atrativo é a facilidade com
que as pessoas chegam e falam de suas vidas. Sem maiores pudores, sem maior
cerimônia. Semana passada, sentei ao lado de uma moça que deveria ter os seus
trinta anos. Em coisa de quinze minutos fiquei por dentro de um recrutamento de
pessoas para irem trabalhar no Canadá. A criatura estava indignada com os
requisitos, pois tinha que pagar a passagem e se bancar, além de comprovar ser
titular de uma poupança vultosa. “Ou seja, a pessoa tem que ter uns quinze mil”.
Nossa, tá russo, viu?
Hoje foi ótimo! Uma mulher de
seus quarenta e poucos estava na parada, e quando me aproximei, me olhou e já
começou o papo como se já estivesse em andamento. “É muito sério esse calor. E
a culpa é desses carros! A situação do Haiti, o tufão, tudo é isso.” Eu só
balançava a cabeça. Após a síntese do efeito borboleta, arrematou: “E a
Presidente Dilma já falou! ” Valei-me. Não deu para esperar o nexo, pois meu
transporte chegou.
O fato é que tenho me sentido
mais leve, menos refém de carro. Caminho pelo quarteirão, observo a paisagem e
descubro lojas que nem tinha percebido e ainda conheço figuras. Por fim, como
minha veia jornalística ainda encontra-se em bom estado, entre um solavanco e
outro do moto, possô escrever em meu bloquinho.
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