
Dito isso, peço licença para declarar minhas
primeiras impressões. Confesso que ao assistir, ansiosa, as postagens iniciais feitas
pelo público de Tel Aviv, senti um misto de angústia e mais ansiedade. Não
aparecia o que eu esperava, nada detalhava nada. Um pavoroso indício de non
sense. Mas ela é assim. Aguarde e confirme.
Aos poucos a colcha de retalhos foi tomando
comprimento e espessura. E ainda está em montagem, na minha cabeça e na de
muitas pessoas que a acompanham. Porque isso é Madonna: aparentemente muito
fácil, por ser pop e até kitsch. Mas não se engane, pois nenhum detalhe foi
acrescido por acaso e tudo deságua nas mensagens que ela quer passar para o
mundo.
MDNA Tour veio bem mais densa, onde a estrela dança
pouco e canta mais, dispensando o tão usado playback. A leitura inicial é que a
artista pretende afirmar sua mais nova reinvenção: uma estrela consagrada que
atravessou décadas e que agora se dá ao luxo de falar sobre seu próprio ícone.
Para quem ainda está com a imagem de Sticky and Sweet
Tour, leve, colorida, que tinha a dança como carro chefe, é hora de, como eu,
ter a primeira decepção. Acompanhar o trabalho de Madonna é sentir um pouco
dessa dual artista. Decepção e encantamento, dor e prazer, tristeza e alegria. E
os sentimentos vem necessariamente nessa ordem, para a alegria de seus fãs.
S&S Tour falava sobre pop, hip hop, dança de rua.
MDNA é mais teatral e fala sobre MADONNA. Uma revisita a sua carreira, que somente
a dança não abarcaria. Há o recorrente tema religioso já na abertura, uma sagração
ao sagrado e ao profano. O sutiã cone, usado em 1987 na Turnê “Who’s That Girl”
foi novamente desenhado por Gautier, agora em uma versão 3D, se assemelhando a
uma gaiola.
A polêmica, outro tempero que não pode faltar em sua
vida, agora vem com a menção em palco aos comentários da mídia: a semelhança de
Born This Way, de lady Gaga, com o hit Express Yourself. Tudo isso com uma
inserção de segundos do refrão Born This Way, arrematado por She’s Not Me, música
do álbum S&S. Atitude questionável, mas que já abriu discussão e
repercussão, tendo muitos veículos deixado de analisar o todo do espetáculo para
se deterem na questiúncula levantada por Madonna.
O tempo passou e isso Madonna deixa claro. Em
contrapartida, afirma em suas imagens que ele apenas faz parte de sua obra,
onde ela é a protagonista. É a velha mania madônica de mostrar quem manda. Releitura,
reafirmação/afirmação. Os anos passaram e ela tem atravessado todas as ondas e
geralmente se mantido no topo. A nova versão de Like a Virgin diz muito sobre
isso: regada ao piano, aos 54 anos e com pouca roupa no palco, Madonna em
alguns momentos canta se apoiando em uma bengala e em suas costas está escrito
NO FEAR. É dizendo que não se deve ter medo que ela enfrenta seus próprios
medos. E assim ela foi e é uma gigante e por isso tão amada e admirada. E assim
será.